01 novembro 2011

#11 Carta para alguém falecida pela qual gostavas de falar

olá tio:
como está tudo aí em cima ? tens-te dado bem sem a avó ? quer dizer, já te habituaste não é ? passado tantos anos ..
nunca falei de ti, esta será a primeira vez. admito e sou sincera, és um tabu lá em casa. como se, se evitasse tocar no assunto. és o maior segredo da família, não sei que te aconteceu, onde ou quando. até o teu nome custa relembrar. desconheço os teus feitos, ambições ou virtudes mas mesmo assim é como se conhecesse muito. todos os dias vejo a tua fotografia e mesmo assim o teu rosto aparece desfocado na minha cabeça. já usei o teu guarda-chuva, que o avô fez questão de guardar. estava intocável, tal e qual como o deixaste, com um bocadinho de pó a mais, mas não te preocupes, eles tomam conta dele. e eu, eu tenho lá o teu colar. foi o primo, nuno, que me deu , deu-mo a mim quando a cáti andava sempre a pedir. perguntou se o queria e como é óbvio ele está lá, na minha mesinha de cabeceira, à espera que um dia voltes para buscar o que te pertence.
vejo amigos falarem dos tios, das famílias enormes que têm, enquanto eu perdi uma parte da vida, quando foste embora. fizeste-me orgulhar muito da avó, ultrapassou tudo de cabeça erguida e muito bem. hoje, nem sei como lhe agradecer o que faz por mim todos os dias. eles amam-te e nunca desconfies de tal.
um dia conhecer-te-ei, terei o mesmo desfecho que tu, já que isso é a única coisa comum no ser humano.

3 comentários:

Filipa disse...

Gostei mesmo muito querida (:

joana. disse...

às vezes chega e sobra ..

Anónimo disse...

acontece (a) e eu a ti, boo ♥
aii, arrepiei-me tanto com este post :s